quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Em cima do Muro de Berlim

Eu me lembro dos noticiários daquele novembro de 1989! Poucas semanas depois seria o meu aniversário de 14 anos!

Depois do título paulista do Corinthians com gol de Viola em 1988 e a tremida de chão que o estado de São Paulo teve (realmente a comemoração foi algo muito absurdo), a Queda do Muro de Berlim parecia para mim ser a maior notícia que o mundo já teve!

Mais do que um acontecimento histórico, aquilo tinha gosto de vitória, assim como o gol de Viola pro Corinthians em 1998. Era a vitória do Capitalismo. Pelos noticiários sentíamos o mundo comemorando a queda.

E não foi nenhuma comemoração especial não! Era como seu fosse um título de futebol da torcida de maior número. Com direito a telefonemas e piadinhas com os amigos de alma socialista (a torcida menor).

Nem dá pra entender muito bem a felicidade dos brasileiros com esse acontecimento, mas tudo bem, eu só tinha 14 anos, mas como entendia a alegria do título de futebol, tudo parecia bastante familiar.

Aquela imagem da galera bebada em cima do muro com uma picareta na mão era capaz de empolgar qualquer pessoa moleque em 1989! Ainda bem que a gente cresce!

Depois de crescer, temos a oportunidade de ter contato com algumas publicações estrangeiras e realizar a leitura com afinco e atenção. Não precisa de muita perspicácia para perceber o quanto a imprensa brasileira (que tanto nos influencia) reproduz com fidelidade as opiniões e tendências da mídia estrangeira!

Ops, errei! Mídia norteamericana. No Brasil (e não na língua-portuguesa), esses dois termos são quase sinônimos. Peço desculpas pela gafe.

Isso parece óbvio, mas não é.

Não é claro porque quando lemos editoriais ou escutamos grandes nomes falando sobre a profissão de jornalista no Brasil, escutamos termos como autonomia, democracia, independência, quarto poder, identidade e por ai vai.

É balela!

A imprensa brasileira tratou a Queda do Muro de Berlim como uma grande vitória "para democracia" porque foi exatamente esse o trato dado pela imprensa norteamericana.

Afinal, essa foi a maior vitória dos Estados Unidos no século XX. Nem a vitória na Segunda Guerra ou o julgamento de Saddam tiveram a mesma proporção.

O que o mundo (por meio da imprensa) convencionou chamar de "o fim da Guerra Fria" foi o acontecimento que marcou a grande vitória da história norteamericana. Foi a entrega do título! Do maior título!

Foi quando eles disseram: Conseguimos! Agora o mundo é nosso!

A imagem de Reagan nervoso dizendo para Mikhail Gorbachev "derrubem esse muro agora, esse muro é uma vergonha" (ou algo bem próximo) é uma cena clássica. Não me lembro de nenhum outro presidente dos EUA ou de outro país, sendo tão enfático com nenhum outro assunto.

Enfim, eles fizeram a lição de casa direitinho e realmente para a Copa do Mundo de Futebol é melhor ter uma Alemanha unificada. Já pensou em 2002 no Japão, se o Brasil fosse campeão em cima da Alemanha Oriental ou Ocidental? Isso não teria graça nenhuma!

E, além disso, é chic demais poder ir para um país que vende como souvenir um tequinho do muro! Sou louco pra ter um, mas só indo pra lá porque os chineses ainda não colocaram tecos do muro em linha de produção.

Enfim, após 20 anos a imprensa brasileira noticia a Queda do Muro como algo que foi realmente necessário, pois era o símbolo de uma política arcaica e sua presença contrastava com o que passaríamos a chamar de globalização. Por todos os meios de comunicação a imprensa brasileira esbravejou que o mundo de hoje jamais comportaria uma divisão como aquelas! Isso seria um absurdo ao cubo.

Acho "curioso" não ter visto nenhuma matéria estabelecer uma relação entre o absurdo que seria existir um muro como aquele com o embargo econômico dos Estados Unidos sobre Cuba que data de 1962 e quem em 1992 virou lei e que perdura até hoje. O muro é de 1961!

Você leu certo: lei.

É lamentável saber que nenhum jornalista ou meio de comunicação brasileiro conseguiram estabelecer uma relação tão óbvia entre esses dois fatos com raízes na mesma Guerra Fria e em datas tão próximas.

Pena que não houve nenhuma nota no New York Times sobre o assunto. Mas eles não citarem, eu entendo. Autocrítica realmente é algo muito doloroso. O que eu não entendo é os jornais brasileiros não public...

Ops!

Isso eu também entendo!

Minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá...

E os papagaios são aves lindas!

Obrigado Viola!



Souvenir, vendido em Berlim, com um pedaço de algum muro qualquer para lembrar o dia da vitória.