quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Dias mornos

Tem dias que temos a impressão de que tudo deu errado. Sensação que não deveríamos sequer ter saído da cama.
Uma ou mais situação de erro ou azar pode nos dar essa incômoda sensação.
Isso deve ser resultado do dom humano de dar mais atenção para aspectos negativos do que para aspectos positivos, afinal nem o pior dia da vida foi composto somente por coisas negativas.
No mínimo não faltou água, o papel higiênico não acabou etc, etc, etc...
Essa coisa pessimista talvez seja algo remanescente do tempo em que os nossos antepassados viviam em cavernas e os perigos eram tão evidentes e vivos que o otimismo devia ser visto com certa leviandade.
A luta pela sobrevivência não devia ser nada fácil.
Viva o pão de açúcar!
Sabendo que coisas ruins acontecem inevitavelmente, deveríamos agir com mais naturalidade com as partes “não-boas” da vida. Entendê-las como parte da essência humana, que ajudam a manter a chama acesa.
Já criança deveríamos aprender a deixar as coisas ruins são parte integrante da vida.
Errar por errar, bater a cara por bater, sentir a dor da pancada e nada mais! Sentir tudo como uma experiência de vida viva! Algo essencial.
Fazer esforços para que esses movimentos aconteçam de forma natural. Acontece e ponto!
Vendo naturalidade nisso, poderíamos aproveitar a sequência de fatos para abrir as portas para os bons acontecimentos.
Mas, nada é tão simples assim.
Porém, se houver um entendimento de que um dia de erros pode ser melhor do que um dia que passou despercebido, chegaríamos à conclusão que não há nada pior que dias que jamais serão lembrados, dias em que, mesmo querendo, será impossível tirar alguma lição...
Afinal, fomos treinados para aprender com as coisas ruins da vida.
Evidente que ninguém lembra de todas as coisas boas e ruins que viveu. A memória além de trair é seletiva!
Esses dias em que nada acontecem são mornos!
Nem quente, nem frio: o morno!
Nem algo bom, nem algo ruim...
Dias de nenhuma emoção!
Dias de nenhuma convicção!
Dias de nenhuma lição!
Não estou falando de rotina, pois há rotinas que podem ser extremamente calientes e outras um tanto quanto desgastantes.
É aquele típico fim-de-semana que na segunda-feira ninguém sabe dizer com precisão ou emoção o que aconteceu: nem um corte no dedão, nem um arroz queimado, nem um computador que pifou, nem uma decepção, nem uma tristeza, nem um telefonema...
Do jeito que vivemos sequer conseguimos perceber que há coisas piores que a tristeza. E que a tristeza por causar emoções, reflexões e possibilitar mudanças não é algo tão ruim assim...


fábio evangelista.